Levantamento realizado pela Comissão Nacional dos Presbíteros (CNP) vinculada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), mostra que 436 padres diocesanos foram infectados pelo novo coronavírus, sendo que, deste total, 21 morreram por causa da doença.
A maioria já se recuperou e alguns ainda estão internados em estado grave. Os dados contabilizados até a última sexta-feira, 31, apontam um aumento de 11% em relação ao último balanço divulgado dois dias antes, quando o registro era de 368 padres testados positivos para a covid-19.
Os números podem ainda ser maiores, já que algumas dioceses ainda estão atualizando seus registros. "No último balanço foram incluídos dados de três dioceses que estavam faltando. Outras ainda estão levantando informações", afirma o padre José Adelson da Silva Rodrigues, presidente da CNP.
Além disso, os dados levaram em consideração apenas os padres diocesanos, não constando o número de sacerdotes religiosos, que fará parte de outro balanço. "Até o dia 15 de agosto, queremos apresentar outro levantamento para ter uma realidade mais visível, inclusive com dados dos religiosos (fiéis), além dos diocesanos".
O pároco descarta possível relação da reabertura de Igrejas Católicas com o aumento de casos entre padres. "Seguindo as recomendações para fechamento, não estávamos fazendo missas para o público em geral, mas as atividades administrativas não pararam. Além disso, algumas dioceses ainda estão atualizando seus registros. Com isso, o número hoje já deve ser maior."
Os dados mais recentes foram consolidados com base em consulta aos 18 regionais da CNBB, que reúnem 278 dioceses e arquidioceses do País.
O regional Sul 1 da entidade, que engloba o Estado de São Paulo, com 45 circunscrições religiosas, registrou o maior número com 72 infectados e 1 óbito pela covid-19. Deste número, o regional Norte 2 da CNBB, que compreende os Estados do Pará e Amapá, registra o maior número de mortes, ao todo 6, em decorrência da doença. Nos dois Estados, incluindo os óbitos, 64 padres foram contaminados pelo vírus. Somente em Belém do Pará, 36 padres foram contaminados e 4 morreram.
A entidade também não tem o número exato de quantos padres estão internados em estado grave, mas a maioria já se recuperou.
O padre Flávio Herculano da Arquidiocese de Natal, de 45 anos, faz parte das estatísticas. Ele foi testado positivo para a doença no mês passado. Embora estivesse tomando todos os cuidados, ele continuou frequentando a igreja para assuntos administrativos. "Um grupo reduzido, equipe de apoio mesmo. Mas quando foi no dia 15 de julho, eu comecei a ter tosse seca e febre".
No dia seguinte, ele foi a um hospital de referência da doença. "Pediram para manter isolamento social, fiz o exame e deu positivo. Foram três dias de mal estar, com fraqueza e me alimentava mal". Apesar da idade, por ter diabete e pressão alta, o religioso faz parte do grupo de risco da doença. "É uma experiência muito ruim, felizmente não precisei ficar internado e, depois de três dias, os sintomas foram diminuindo. Ver que pessoas estão morrendo desta doença, cria muito medo na gente, mas com medicação e confiança em Deus, eu consegui me recuperar. Estou fazendo meus exercícios, tentando melhorar as taxas de diabete. Da covid-19, estou curado".
Apesar da alta médica, o padre Flávio ainda permanece no isolamento social. "Mais de 20 dias isolado. É um momento para refletir sobre nossas vidas e atitudes. Um verdadeiro retiro". O pároco está ansioso para o retorno de suas atividades. "Volto no próximo domingo, 9, para a missa do Dia dos Pais". Somente a missa aos domingos foi retomada, há algumas semanas com um padre de outra comunidade, já as reuniões permanecem de forma online. Assim como os religiosos, todos os fiéis são orientados sobre todas as medidas de segurança para evitar o contágio do novo coronavírus.
Ainda de acordo com o levantamento, 12 bispos foram testados positivos, sendo que Dom Aldo Pagotto, da Diocese de Emérito da Paraíba, e Dom Henrique Soares da Costa, da Diocese de Palmares, em Pernambuco, morreram. Apesar das medidas de precaução adotadas, muitos padres estão com receio de retomar as cerimônias religiosas. "A maioria fica com medo. Temos padres com problemas de saúde e idosos que fazem parte do grupo de risco. Em alguns casos, conversamos para que eles mesmos se preservem. Sempre, vendo o que é melhor para cada um deles", disse o padre José Adelson.
"Cada diocese fez um decreto passando orientações aos fiéis como uso de máscara, importância do distanciamento de 1,5 metros e uso de álcool em gel. As igrejas foram sinalizadas com orientações e tapete de higienização, sendo um para limpar (ao pisar) e outro para secar os sapatos", explica o padre.
Nem todas as Igrejas Católicas voltaram a atender os fiéis. No Nordeste, Paraíba, Alagoas, Pernambuco e Rio Grande do Norte planejam reabrir a partir desta semana. "Cada Estado faz seu cronograma, dependendo do número de casos. Se número aumentar, novo fechamento não está descartado", reforça o pároco.
Embora não haja uma contagem exata, estima-se que haja mais de 26 mil padres no Brasil, segundo última pesquisa realizada há dois anos.
Outras religiões: Na comunidade muçulmana, há registro de dois casos da doença, segundo o sheik Mohamad Bukai da Mesquita do Brasil. "Um sheik foi internado para uma cirurgia e foi contaminado pela covid-19 no próprio hospital. Outro é médico e frequenta muitos hospitais. Pegou a doença e ficou dois meses internado. Ambos estão bem atualmente."
De acordo com a Federação das Associações Muçulmanas do Brasil, há 60 sheiks, 90 mesquitas e mussalas (salas de oração) e 80 centros islâmicos no Brasil. Atualmente, existem entre 1 milhão e 1,5 milhão de muçulmanos no País.
Durante os meses em que as mesquitas ficaram fechadas, orações e reuniões internas eram feitas de forma online. Com a permissão de reabertura no último mês, as mesquitas voltaram a receber fiéis, no entanto, restrições foram adotadas.
"Há quase um mês, reabrimos as mesquitas, mas com número bem reduzido somente às sextas-feiras. Com distanciamento respeitado, 30% da capacidade de lotação, sem a presença de jovens e idosos. Cada um traz seu tapete. Temos também cabine para higienização na entrada das mesquitas", disse o sheik Mohamad Bukai.
Com 120 mil judeus, o Brasil abriga a segunda maior população judaica da América Latina e a décima maior do mundo. Diante da pandemia do coronavírus, a Confederação Israelita do Brasil (Conib) e suas federadas tomaram todas as medidas para conter a disseminação do vírus.
Em março, sinagogas, escolas, entidades judaicas e clubes foram fechados e os serviços religiosos em diversas sinagogas passaram a ser transmitidos de forma online. "Neste momento, algumas delas já estão em fase de reabertura, seguindo rígidos protocolos de segurança", disse o presidente do Conib, Fernando Lottenberg.
Segundo a Conib, 115 pessoas da comunidade judaica morreram de covid-19. Não há detalhamento apenas de religiosos.Estadão Conteúdo/Foto:Reuters
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