Morte repentina de modelo causa comoção e abre crise na SPFW

A morte do modelo Tales Soares, conhecido como Tales Cotta, após um desmaio durante o desfile da grife Ocksa na São Paulo Fashion Week, ainda é cercada de polêmicas de bastidores, justificativas por parte da organização do evento e dúvidas sobre a causa do "mal súbito" que o acometeu segundo o Instituto Médio Legal.

A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo afirmou que o caso foi registrado como morte suspeita. A pasta afirma que o rapaz morreu às 18h40 depois de passar mal e que o agente dele esteve no 14º Distrito Policial, em Pinheiros.

De acordo com o governo estadual, ele foi levado ao Hospital Sorocabano, onde teve uma parada cardiorrespiratória e morreu. Um exame necroscópico foi solicitado.
O responsável pela agência de Soares, Base Mgt, Rogério Campaneli, afirma que os médicos do Hospital Sorocabano suspeitam da existência de uma doença congênita.

"Falaram que, quando o Tales caiu, a morte cerebral já existia. Tentaram, durante uma hora e 20 minutos, reanimar o coração. Mas o socorro não iria adiantar", disse.

Segundo Campaneli, o IML deu um prazo de 60 a 90 dias até o laudo ser concluído. "Ele estava numa plenitude total. As pessoas falaram que ele estava brilhando muito. É uma coisa inexplicável."

O agente conta que ele havia passado por exames por causa do trabalho. Para participar do evento, ele teria apresentado um atestado de saúde.

Há um ano e oito meses na agência, Soares era considerado um modelo em ascensão. "Era focado, e as coisas estavam dando certo. Iria gravar um comercial para uma marca de combustível por causa da [onda de propagandas voltadas à] diversidade", diz.

Um desfile em Milão, ainda neste ano, estava na agenda de trabalhos do garoto.

A mãe do modelo, Heloísa Cotta, escreveu em uma rede social que "fatalidades acontecem" e que era a "hora" do filho. "Sempre teve muita saúde e sempre se cuidava com exames periódicos, portanto as fatalidades acontecem e era a hora dele. Estamos todos aqui de passagem", disse. "Meu filho era um menino de ouro. Não tinha vícios. Vai me fazer muita falta."

Ainda no relato escrito na internet, ela desmente os boatos de que seu filho não havia se alimentado antes do desfile.

"Gostaria de deixar claro aqui, principalmente para algumas matérias da mídia, que o Tales Cotta não estava sem se alimentar. Eu, como mãe, sempre me preocupei com a saúde dele e ele também. Poucos minutos antes do desfile, perguntei se havia se alimentado e ele me respondeu que tinha comido bastante", disse.

Modelos ouvidos após a queda dele na passarela relataram que, por ser vegetariano e não haver comida desse tipo no camarim, ele não havia comido antes do desfile.

A mãe do rapaz não respondeu a pedidos de entrevista até a conclusão desta edição.

Amigo de Soares desde que se conheceram, no ano passado, num desfile da grife Farm, o estilista Rafael Silvério conta que ele adorava visitar a família e comer. "A gente viu muitas coisas nas redes sociais de que ele usava ilícitos e que comia pouco. Muito pelo contrário, ele comia muito", diz.

Irmã de Tales, Alexandra Soares também afirmou que o modelo era saudável em entrevista à Globo News. "Um rapaz que fazia crossfit, ioga, meditava, tinha uma alimentação super-saudável, não usava drogas. Então, assim, é difícil entender", ela disse.

O corpo magro, cabelo platinado e com semblante incomum está em alta na moda, o que explica em parte o sucesso alcançado por Tales Soares.

Ele morava em um apartamento com outros modelos, na rua Frei Caneca, no centro.

Formado em educação física pela Universidade Federal do Espírito Santo, Soares entrou no mundo da moda por acaso, como muitos de sua idade. Em uma entrevista à revista Harper's Bazaar, publicada no ano passado, ele afirmou que sempre se dedicou aos estudos e que se mudou para São Paulo "para investir mais na carreira de modelo".

Sonhava com uma carreira internacional e dizia pretender entrar para o ramo da gastronomia depois da moda. Entre seus hobbies, a capoeira e a prática de esportes ocupavam o topo da lista.

Lívia Barros e Janaina Azevedo, da grife Ken-gá, que desfila na Casa de Criadores, dizem que viam nele algo especial.

O estilista Rafael Caetano, que também contratou o modelo assim que ele chegou a São Paulo, acredita que o rapaz poderia estar passando mal, mas que não falaria para poder executar o trabalho.

"É o que me veio à cabeça. Um menino profissional, mas que, para finalizar o trabalho, decidiu continuar."

Além das dúvidas sobre suas circunstâncias, a morte abriu uma crise sem precedentes na São Paulo Fashion Week. Diversas notas foram divulgadas após o incidente, reiterando os supostos esforços do evento no apoio à família.

A última delas tentava minimizar os protestos que tomaram conta das redes sociais pelo fato de o evento ter seguido mesmo após o incidente. O comunicado justificava a decisão de não interromper os desfiles, lembrando que o modelo "foi levado ao hospital com vida, sem indicação que viria a falecer".

As quatro grifes que desfilaram após o tombo de Soares, segundo a SPFW, tinham a opção de cancelar as apresentações. Mas as equipes de duas delas, Flavia Aranha e Piet, não sabiam de nada até a morte do jovem. Informações desencontradas e conversas restritas a bastidores atrasaram qualquer ação baseada na gravidade dos fatos.

A produção de Flavia Aranha não foi informada nem mesmo da queda. Responsáveis pelo desfile da Piet, que aconteceu quase uma hora após a confirmação da morte, foram informados só minutos antes da apresentação.

No desfile da Cavalera, o rapper Rico Dalasam subiu à passarela dizendo que foi convidado pela grife para falar, mas que não era para ninguém estar ali. "O garoto acabou de morrer e vocês estão aqui como se a vida não valesse nada", disse, em tom de revolta.

O velório do rapaz será nesta segunda-feira (29), na Capela do Hospital Cesar Leite, em Manhuaçu, em Minas Gerais.Com informações de Folhapress/Foto:Divulgação

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