Caminhar pela
região batizada pelo músico e artista plástico Heitor dos Prazeres como Pequena
África, no Rio de Janeiro, é se deparar com referências à chegada de africanos
escravizados e à contribuição de seus descendentes para a cultura do país.
Para facilitar
a identificação desses marcos, está disponível um aplicativo para telefones
celulares com informações sobre 18 pontos, resultado do projeto Passados
Presentes – Memória da Escravidão no Brasil. Em forma de roteiro turístico, os
locais mapeados estão marcados com ícones e imagens no aplicativo que traz
informações históricas e pode ser baixado gratuitamente está disponível para Android.
O primeiro dos
18 pontos é o Mercado de Escravos da Prainha. É ali que ficava o barracão com
africanos traficados e disponíveis para compra, no período colonial, retratado
em pinturas do artista alemão Johann Moritz Rugendas. Próximo, estão o Cais do
Valongo, principal porto de desembarque de pessoas escravizadas, recuperado
após obras de revitalização na região, e o Cemitério dos Pretos Novos, onde
foram enterrados, uns sob os outros, cerca de 50 mil corpos, incluindo crianças
e adolescentes, que morreram no tráfico transatlântico.
Cais do
Valongo, na região central do Rio de Janeiro, faz parte do roteiro turístico
traçado pelo aplicativo Passados Presentes
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Possível de
ser identificado também por meio de um código QR, em placas, em alguns desses
pontos, também está no roteiro cultural à comunidade quilombola Pedra do Sal,
de 25 famílias, que ocupa antigos casarões e é pouco notada pelos
frequentadores das noitadas no local.
Um monumento
histórico religioso, outro símbolo da Pequena África,a Pedra do Sal lota às
segundas-feiras para tradicionais rodas de samba, herança dos estivadores que,
décadas atrás, depois de escoar o sal de navios, usado como moeda de troca, se
reuniam ali para tocar.
Todos esses
três pontos, juntos, integram o complexo do Cais do Valongo,candidato a
Patrimônio da Humanidade pela
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco),
lembra Damião Braga, uma das lideranças do quilombo.
“Esse projeto
vai ajudar a dar mais importância a essa região e a reconhecer, com a
regularização fundiária, o quilombo”, cobrou.
Damião
acompanhou ontem (2) o lançamento do roteiro da Pequena África, no Museu de
Arte do Rio. Depois do lançamento, dezenas de pessoas percorreram os pontos
turísticos da região.
Elaborado por
meio de um edital da Petrobras para preservação do patrimônio imaterial, o
aplicativo ajuda a conhecer a história e a refletir sobre o racismo estrutural
em nossa sociedade, explica uma das coordenadoras-gerais do projeto Hebe
Mattos.
“Não é
possível entender o Brasil sem compreender o genocídio que foi a escravidão,
nem sem saber da riqueza da transformação cultural que os imigrantes africanos
proporcionaram ao país. Quem não conhece as duas coisas não conhece o Brasil”,
afirma a professora de história da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Ao se deixar
ser guiado pelo roteiro traçado pelo aplicativo, turistas e curiosos poderão
ainda se deparar com referências recentes. Entre elas, uma das principais obras
do engenheiro e abolicionista negro André Rebouças, o gigantesco Armazém Docas
Pedro II; a casa onde pesquisadores acreditam ter nascido o escritor negro
Machado de Assis – um dos mais importantes do país – e as sedes de associações
de trabalhadores, majoritariamente negros, que lutaram pelo funcionamento de
suas casas de dança e religiosas, reprimido no século 20.
O roteiro da
Pequena África, criado pelo projeto Passados Presentes, pode durar mais que uma
manhã ou uma tarde inteira e deve ser percorrido todo a pé. O trajeto termina
no Centro Cultural José Bonifácio, onde funciona o Centro de Referência da
Cultura Afro-Brasileira.
Quem não se
contentar com os 18 pontos pode acionar a opção “Perto de Mim”, que traz mais
58 referências, como um dos mais novos pontos turísticos, o Morro da Conceição.
O projeto
Passados Presentes também tem roteiros traçados com as comunidades no Quilombo
de Bracuí, em Angra dos Reis, na Região dos Lagos; no Quilombo de São José, em
Valença, e sobre o jongo na cidade de Pinheiral, ambas no interior do estado do
Rio.Agência Brasil/Foto:Tomaz Silva/Arquivo/Divulgação
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