As manifestações
ocorridas ontem (13) no país mostram que o Brasil vive uma crise sistêmica na
política, na avaliação de especialistas ouvidos pela Agência Brasil.
Apesar de o
foco dos atos ter sido a crítica à corrupção, ao governo da presidenta Dilma
Rousseff e ao PT, o professor de Gestão de Políticas Públicas da Universidade
de São Paulo (USP), Pablo Ortellado, disse que a crise não é apenas do mandato
da petista.
“A Dilma é
expressão máxima, mas acho que a gente não vai ter estabilidade tão logo. O que
está movendo a mobilização é a investigação da Lava Jato, que é muito
transversal a todos os partidos políticos. A investigação afeta PT, PMDB e
PSDB. Isso já está
gerando uma crise sistêmica e vamos ver que solução o Brasil vai encontrar para
isso, porque estamos com poucos atores [políticos] com legitimidade”, disse
Ortellado, que esteve na mobilização de ontem na capital paulista e estuda
os protestos de rua em São Paulo nos últimos anos.
Para o
professor da USP, o fato de políticos terem sido vaiados e hostilizados na
manifestação realizada na Avenida Paulista, como o governador de São Paulo,
Geraldo Alckmin (PSDB) e o senador Aécio Neves (PSDB-MG), mostra que os
manifestantes estão insatisfeitos com todos os partidos políticos.
“A desconfiança não está apenas no PT. Para os
manifestantes, o PT é um caso máximo e muito grave de corrupção, mas a
corrupção é sistêmica e está espalhada por todos os partidos políticos. A
desconfiança não está apenas nos partidos políticos, mas também nas suas
principais lideranças. Poucos escapavam desse sentimento e é isso que a gente
viu mais uma vez aqui [em São Paulo].
Quando os
políticos se arriscaram a tentar ter um papel mais proeminente e subir nos
carros de som, foram impedidos. Essa é uma novidade desse processo porque esta
foi uma manifestação que foi chamada por partidos políticos também, não apenas
por grupos da sociedade civil”, afirmou Ortellado.
Para o
professor Ortellado, a instabilidade política pode gerar uma situação
preocupante. “Isso pode abrir para uma situação muito perigosa para algum
aventureiro se cacifar com um discurso antipolítico. Foi o que aconteceu na
Itália com o [ex-primeiro-ministro Silvio] Berlusconi ou o que está acontecendo
nos Estados Unidos agora com o [pré-candidato presidencial republicano Donald]
Trump. Uma pessoa que vem de fora do sistema político que busca consertar isso,
mas sem programas políticos claros”.
Falta de representatividade-O cientista
político Márcio Malta, da Universidade Federal Fluminense (UFF), também
acredita que a crise política é estrutural. “É uma crise estrutural em termos
de uma falta de representatividade em relação a todos os políticos: o Cunha
[Eduardo Cunha, presidente da Câmara], o Temer [Michel Temer, vice-presidente
da República], o PSDB, o PT. É como se falassem: não nos sentimos representados
por esses políticos no Planalto e no Congresso. Parte da população que está
indo para as ruas repudia também esse tipo de comportamento de alguns políticos
que tentam tirar proveito nesse tipo manifestação”, disse.
Para Malta,
o país está sem uma agenda. Na avaliação do cientista político, a saída passa
por ações propositivas, reforma política e financiamento público de campanha
efetivos.
“A classe política tem responsabilidade: tem que entender essas
manifestações pelo viés do que está levando as pessoas às ruas e por que tantas
pessoas estão insatisfeitas com o governo. O quadro é bastante complexo, mas é
preciso respeitar a Constituição”.
Segundo o
professor da UFF, um outro fator que aumenta a insatisfação da população é a
crise econômica. “Ela é decisiva. À medida que a classe média perde poder de
consumo, também essa insatisfação e indignação crescem. Mas as instituições não
podem ser abaladas, por exemplo, por uma crise econômica. Tem que respeitar o
rito de um presidente eleito e a oposição, se estiver insatisfeita, que se
organize e dispute uma próxima eleição”, afirmou.Agência Brasil/Foto:Rovena
Rosa/Divulgação
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