O Brasil vive
dias de ânimos acirrados e o debate político, no atual contexto, peca pela
superficialidade, segundo a pesquisadora Esther Solano, professora de Relações
Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Para Esther,
que faz pesquisas sobre manifestações no Brasil desde os protestos de junho de
2013, os atuais atos que carregam a bandeira anticorrupção sofrem uma
polarização que chega a ser prejudicial. "Hoje se vê uma raiva muito
maior, uma polarização e um conteúdo muito emocional no discurso, que é pouco
sólido politicamente, com muito poucos argumentos. Um discurso que
impossibilita a entrada para o diálogo", diz.
De acordo com
a professora, a tendência é que os manifestantes, por se manterem em
"guetos ideológicos" em suas redes sociais (maior meio de mobilização
atual), não tenham uma visão crítica sobre a conjuntura política e criem a
imagem de heróis e vilões dentro do jogo político.
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Segundo a
pesquisadora existem “guetos ideológicos” em suas redes sociais (maior meio de
mobilização) não tenham uma visão crítica sobre a conjuntura política
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"O debate
político já não é um debate de ideias; é quase que moral entre bem e mal, entre
figuras simbólicas, heróis... um debate muito infantilizado", explica.
Há uma
fragilidade muito grande das instituições e uma crise democrática muito grave.
A maioria das pessoas desacredita no funcionamento cotidiano do Congresso e tem
ainda um sentimento de irritação e frustração: se sentem enganadas. Quando há
um descrédito tão grande das instituições, tem-se um conteúdo que já não é
tanto de programa político, de propostas, racional e argumentativo, que passa a
ser muito mais emotivo, raivoso. Aí aparecem as figuras, os personagens; por
isso acaba havendo uma polarização em termos de figuras também,afirma a
pesquisadora.
Há os que
pensam que o Sérgio Moro é o salvador da pátria, o herói, e acabam colocando a
figura dele acima do bem e do mal, e os que apoiam o Lula que também o veem
como um super-homem. Agora, o juiz Catta Pretta [que suspendeu a posse de Lula
logo após a cerimônia] provavelmente também será visto como herói para muitos e
vilão para outros.
O debate político já não é um debate de ideias; é quase que
moral entre bem e mal, entre figuras simbólicas, heróis... um debate muito
infantilizado.Agência Brasil/Foto:Rovena Rosa
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